Uma das áreas que mais suscita inovações tecnológicas na direção de melhores resultados na gestão ambiental e na busca de parâmetros de sustentabilidade é a construção civil. Proporcionalmente às grandes e originais iniciativas, muito disseminadas e incentivadas, ocorre grande inviabilização e descarte de novas ideias ou concepções, que se mostram inviáveis.
Site Inovação Tecnológica registra recentemente, matéria denominada “Ecocimento promete casas construídas por bactérias”. Indicando que uma massa pesquisada, produzida pelas bactérias é misturada com areia e cinza de palha de arroz para produzir o ecocimento.
O site registra então que “Engenheiros europeus desenvolveram uma nova tecnologia para fabricar biocimento cuja grande estrela é um tipo comum de bactéria que vive no solo (Sporosarcina pasteurii), que é cultivada em uma mistura de ureia e nutrientes a uma temperatura de 30º C.” Complementam que “Dentro dessa mistura, a bactéria começa a se desenvolver; elas basicamente aumentam de número. A bactéria precisa alcançar, uma certa quantidade a fim de produzir o cimento. Depois de cerca de três horas de fermentação, nossa mistura está pronta para uso,” explica Piero Tiano, líder do projeto Eco-Cement, que segundo informação do site Inovação Tecnológica, é um projeto financiado pela União Européia.
Pelo que se depreende e continua sendo informado pelo site, “antes de poder ser usado para fazer paredes, a mistura produzida pelas bactérias precisa ser misturada com areia, resíduos de cimento industrial reaproveitado e cinzas de casca de arroz, para então virar o ecocimento pronto para ser aplicado sobre os tijolos”. Registros indicam que a mistura se mostrou apropriada na construção de paredes cm tijolos, mas não par a funcionalidade de substituir concreto.
As transformações e processamentos do calcário para fabricação de cimento, são feitas em unidades industriais que exigem temperaturas de 1.400 a 1.500º C. Já o biocimento feito pelas bactérias é produzido a meros 30º C. Isto ocorre, porque é usado um processo biológico para ligar as partículas do cimento. Testes iniciais em pequena escala foram promissores, sendo o ecocimento adequado para a construção de paredes, mas não resistentes para substituir os usos do concreto tradicional.
As altas temperaturas de produção dos agregados tradicionais de cimento, que favorecem a formação de gases incentivadores do efeito estufa, podem ser substituídas por agregados que tenham por base carbonatos de magnésio em vez do tradicional carbonato de cálcio.
John Harrison, de Hobart, na Tasmânia (Austrália), segundo dados informados por comunicação na internet (www.recriarcomvoce.com.br), calcula que seu cimento alternativo, baseado em carbonato de magnésio em lugar de carbonato de cálcio, seja capaz de reduzir o ritmo de alteração climática sem sacrificar o estilo de vida moderno. É uma proposição ambiciosa. Harrison baseado em trabalhos próprios ou de terceiros, indica que o Protocolo de Kyoto errou ao presumir que as árvores eram a única coisa capaz de absorver o carbono presente no ar. Em lugar disso, o plano que ele propõe é substituir o ubíquo cimento Portland por uma substância que ele chama de “ecocimento”.
Esse material a base magnésio, diz, “pode ser mais barato de fabricar do que o cimento Portland, mais durável e além disso seria também capaz de acumular CO2”. O proponente, Harrison manifesta que caso o setor de construção invista nesta nova tecnologia, as cidades e seus subúrbios poderiam se transformar em mecanismos de absorção de dióxido de carbono, tão eficientes quanto a grama e matas naturais, que precedem eventos de urbanização.
A produção de cimento Portland gera um volume imenso de dióxido de carbono. Isso se deve em parte à grande quantidade de energia necessária para elevar as temperaturas dentro dos fornos de cimento aos 1.450°C necessários para processar o carbonato de cálcio. O cimento Portland tem cerca de dois séculos, e foi inventado de forma meio casual pelo operário Joseph Aspdin, que em 1824 obteve uma patente para “um aperfeiçoamento nos modos de produção de pedra artificial”. A mistura deflagra uma complexa reação química que forma cristais de hidrato de silicato de cálcio que endurece a mistura e propicia a execução das paredes.
O cimento Portland é fácil e barato de fabricar e imensamente versátil, se tornando o ingrediente básico tanto do concreto quanto da argamassa, os materiais básicos de construção de todas as cidades do planeta. Se estima que a cada ano, cerca de 2 bilhões de toneladas de cimento Portland sejam produzidas no mundo, um total de cerca de 250 quilos por habitante do planeta, aproximadamente. Para cada tonelada de cimento Portland que é produzida, se estima que cerca de uma tonelada de CO2 é lançada na atmosfera, contribuindo para o incremento do efeito estufa. Desta forma, somente a produção de cimento convencional, contribui com quase 10% das emissões de dióxido de carbono.
O site (www.recriarcomvoce.com.br) registra que os cimentos com base em magnésio foram desenvolvidos inicialmente em 1867, pelo francês Stanislas Sorel, que produziu cimento com uma combinação de óxido de magnésio e cloreto de magnésio. No entanto, as misturas que ele criou não resistiam a uma exposição longa à água sem perder a força. Posteriormente foram desenvolvidos avanços no processamento do cimento à base de magnésio.
Os ecocimentos divulgados do especialista Harrison, com base em carbonato de magnésio, têm estrutura química bastante similar à do cimento Portland, e são muito mais robustos do que o material criado por Sorel. De acordo com Harrison, o material proposto tem diversas vantagens ambientais. Seus fornos de produção exigem temperatura muito mais reduzida.
O carbonato de magnésio se converte facilmente em óxido de magnésio a temperaturas de cerca de 650°C. Isso significa que as emissões de dióxido de carbono que estejam relacionadas com a energia necessária para acionar os fornos são reduzidas a valores muito menores e menos comprometedores do que as exageradas emissões atualmente verificadas.
Ocorre de se evoluir em várias frentes na busca de melhores condições de obtenção de parâmetros de gestão ambiental e índices de sustentabilidade no setor da construção civil. E este fato deve ser bastante saudado por todas as partes interessadas e pela sociedade em geral.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/10/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 31/10/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/10/31/ecocimento-artigo-de-roberto-naime/
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