Apesar de ser mais comum com o avançar da idade, a doença não faz parte do envelhecimento normal. “Antigamente, achávamos que a demência que era uma consequência normal do envelhecimento. Hoje, sabemos com bastante clareza que não”, diz. Mograbi explica que o diagnóstico é bastante complexo e depende de exames de neuroimagem, consultas individuais, relatos da família e exclusão de quaisquer outras potenciais alterações. Uma das dificuldades do diagnóstico é precisamente a falta de consciência dos pacientes sobre seus problemas. Em 2012, Mograbi publicou um estudo com 897 participantes, da América Latina, China e Índia, identificando que a falta de consciência de problemas de memória atinge entre 60% e 80% dos pacientes.
Entre 2016 e 2019, com o mencionado financiamento da FAPERJ, seu desafio foi estudar experimentalmente reações de pessoas com demência, utilizando a metodologia da eletroencefalografia. “Nós tivemos duas tarefas diferentes. Uma parte do estudo era a de monitoramento de erros; outra, de respostas afetivas, incluindo em relação aos erros”, explica Mograbi. Os testes envolveram tarefas de tempo de reação e pediam uma estimativa de acertos, na maioria das vezes mais elevada do que de fato tinham ocorrido. Ao mesmo tempo, os pacientes tinham a atividade elétrica cerebral monitorada e, em comparação com idosos saudáveis, tiveram respostas elétricas aos erros atenuadas.
Mograbi: agraciado com prêmio da International Neuropsychological Society (Foto: Divulgação)
A pesquisa também envolveu a identificação do processamento emocional. “É comum que pessoas com demência tenham problemas em regular suas emoções. Isso vai desde as pessoas mais apáticas até pacientes mais agressivos e desinibidos”, explica o psicólogo. Para analisar a reatividade emocional, os pesquisadores também monitoraram o cérebro dos participantes e expressões faciais ao exibirem imagens neutras, como linha de base, imagens positivas e negativas. Novamente, as evidências sugeriram uma relativa preservação, mas diminuição em comparação com controles, da capacidade de reatividade emocional nos pacientes.
Agora Mograbi se prepara para uma nova etapa da pesquisa: a busca para tratamentos não invasivos que podem ajudar a estimular o cérebro e atenuar os sintomas de demência. Financiado pelo Fundo Newton e o Medical Research Council do Reino Unido, a Terapia de Estimulação Cognitiva (CST) será implementada no Brasil, Tanzânia e Índia. “A terapia é realizada em 14 sessões em grupo entre oito e 10 pessoas, com atividades bastante lúdicas, música e comida. O método foi desenvolvido pela pesquisadora Aimee Spector, de University College London. Nesse caso, a gente quer ver se a infraestrutura do país interfere da implementação dessa terapia”, conta, sobre o trabalho em parceria com Jerson Laks e Valeska Marinho, do Centro de Doença de Alzheimer da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Cleusa Ferri, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para quem está interessado em postergar esse quadro, os cuidados são os mesmos que dizem respeito à manutenção geral da saúde. “Tudo que faz bem para o coração, faz bem para o cérebro. Dieta equilibrada, exercícios físicos, tarefas que demandam desafios cognitivos e uma vida social ativa abrangem todos esses aspectos”, finaliza.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 10/10/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3850.2.4
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