sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Estudo mapeia evolução das pesquisas em materiais não convencionais na construção civil

O bambu é uma das estrelas entre os materiais não convencionais quando o assunto é a substituição de materiais industrializados na construção civil. Hoje, ainda, muitos dos materiais empregados no setor são altamente poluentes e demandam alto consumo de energia em sua produção. Um número crescente de pesquisas realizadas desde a década de 1980, mostra a eficiência do bambu em variadas aplicações, embora eles não tenham sido utilizados em grande escala.

De acordo com o professor Pierre Ohayon do Departamento de Contabilidade da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o primeiro encontro da área foi realizado no Rio de Janeiro em 1984, com apenas um tema: a capacidade de redução de custos com o uso de bambu. De lá para cá, os temas predominantes deixaram de ser o potencial de economia para a capacidade de utilização como material de construção em substituição a materiais convencionais como o aço e o concreto. O mapeamento da produção e das redes de pesquisa relacionadas ao bambu para a aplicação de indicadores de inovação relacionados à Ciência e Tecnologia é uma das áreas de pesquisa de Ohayon.

Para além das pesquisas, ressalta o professor, a utilização do bambu na construção civil vem ganhando cada vez mais espaço. Entre os numerosos exemplos de destaque está o teto do aeroporto internacional Barajas, em Madri, inteiramente construído com o material, a igreja em bambú construída pelo arquiteto Simón Vélez, em Pereira, ou mesmo o estacionamento do zoológico de Leipzig, na Alemanha.

Apesar de não contarmos com muitos exemplos fora do meio acadêmico, o Brasil é um dos precursores em pesquisas na área. Na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o professor Khosrow Ghavami, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da universidade, foi um dos primeiros a se dedicar ao estudo do bambu, tendo publicado um número importante de artigos sobre o tema, bem como contribuído para a formação de redes de pesquisa em torno do assunto – como mostrou mapeamento realizado por Ohayon. Ghavami conta com apoio da FAPERJ para a realização de seus estudos por meio do programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.

Ohayon, por sua vez, foi um dos contemplados na edição de 2015 do edital Apoio a Projetos de Pesquisa na Área de Humanidades. Ele ganhou o fomento da Fundação após a criação da Redebambu/BR pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (Mctic), em 2011. O objetivo básico da rede era a consolidação de arranjos institucionais mais apropriados para expandir a pesquisa e o uso do bambu, tanto para o governo Federal, que criou a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu no mesmo ano, quanto para instituições de pesquisa, universidades e programas nacionais ou regionais.

Na criação da Rede, foram contemplados, via edital da Redebambu/BR, seis projetos com valores mínimos de R$ 800 mil, e máximo de R$ 1,3 milhão, para fomentar a pesquisa de forma compartilhada. “Para acessar os resultados desses investimentos e orientar os tomadores de decisão para a aplicação de recursos é necessário ter um sistema de indicadores capaz de avaliar essa aplicação, e permitir à sociedade monitorar e avaliar os esforços direcionados a tais atividades e resultados. E para tal, não basta o senso comum”, diz Ohayon.


Pierre Ohayon: pesquisador defende a avaliação constante na área de CTI para adequação de projetos e propostas (Foto: Juliana Passos)


Especialista no campo de avaliação em Ciência, Tecnologia e Inovação, ao qual se dedica desde o mestrado pela Universidade de São Paulo (USP), em 1977, o pesquisador sugere em artigo publicado nos anais da 18ª Conferência Internacional sobre Materiais e Tecnologias Não Convencionais, realizada em julho de 2019, em Nairóbi, a necessidade da adoção de uma avaliação plural dos trabalhos da rede, que levem em consideração o poder de cada um dos atores envolvidos.

A justificativa para utilização desse modelo, que não ignora outros focados em um planejamento linear, é o momento de crise pelo qual passa o Brasil e o atraso dos pagamentos, inclusive para as pesquisas da Redebambu/BR. “Quanto mais incerto é o ambiente, menos estáveis e concretos são os objetivos. Em outras palavras, quanto menos previsível é o futuro, maior é a utilidade da avaliação na redução das incertezas dos tomadores de decisão”, comenta.

Outra recomendação de Ohayon é a criação de um observatório sobre os materiais e tecnologias não convencionais. “Muito países, em especial os mais avançados, tem adotado novas estruturas em formato de observatórios de Ciência e Tecnologia, com o objetivo de realizar ações para coletar, processar e disseminar informações e conhecimento, que permita tomar decisões por meio de uma rede de elementos envolvidos no processo de gestão de Ciência e Tecnologia”, finaliza.




Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 10/10/2019
Publicação Original: faperj.br/?id=3855.2.1

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