sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Estudo constata efeito positivo de medicamento dopaminérgico no sono de pessoas com Parkinson

Estudo realizado com 22 pessoas acometidas pela doença de Parkinson mostrou que o uso do medicamento dopaminérgico (levodopa) melhora a qualidade de sono. Na comparação, quando os participantes dormiram sob efeito do fármaco, eles apresentaram uma redução média de 25% das vezes que despertaram durante a noite e de 30% do tempo que permaneceram acordados.

A investigação foi conduzida com apoio da FAPESP por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e de Grenoble (França). Os resultados foram divulgados no Journal of Sleep Research.

Os padrões de vigília e sono de pacientes com a doença foram monitorados durante quatro noites com auxílio de um equipamento denominado actígrafo (sensor similar a um relógio de pulso que detecta movimentos). Foram avaliadas três noites dormindo sob o efeito do fármaco e uma sem a última dose da medicação. Curiosamente, e ao contrário dos resultados obtidos com o auxílio do equipamento, na análise subjetiva (relato dos participantes) não foi percebida mudança na qualidade do sono quando foram comparadas as duas condições.

“Este é o primeiro estudo a avaliar de modo objetivo [por meio de equipamentos] os efeitos do medicamento na qualidade do sono dos pacientes com doença de Parkinson e comparar o resultado com o da análise subjetiva. Apesar de o actígrafo mostrar melhora na qualidade do sono quando o paciente dormiu sob efeito da medicação, o benefício não foi percebido pelos participantes do estudo. Isso é importante para o atendimento clínico. Médicos devem levar em consideração esses resultados quando forem decidir se devem ou não remover o uso de levodopa de seus pacientes durante a noite”, afirma Fábio Barbieri, coordenador do Laboratório de Pesquisa em Movimento Humano (Movi-Lab) e do projeto de extensão “Ativa Parkinson” na Unesp de Bauru.

Segundo o cientista, a discrepância entre os resultados das análises objetiva e subjetiva não surpreende. “A percepção do paciente com Parkinson é prejudicada pela doença. Como a média de despertares é de dez vezes por noite, é compreensível que a melhora não seja notada. Daí a importância de considerar os resultados obtidos com o actígrafo”, sublinha.

Tira-teima

O uso de dopaminérgicos, como é o caso do levodopa, tem sido o tratamento de primeira linha para os sintomas motores da doença de Parkinson, como os tremores característicos da doença. Estes parecem estar ligados aos despertares noturnos, uma vez que o sistema dopaminérgico tem também um papel importante na regulação do sono. É sabido, por exemplo, que mudanças substanciais nos níveis de dopamina ocorrem à medida que o cérebro progride no ciclo sono-vigília.

Embora a medicação dopaminérgica possa também melhorar a qualidade do sono, reduzindo o período de latência e o tempo de despertar em pessoas com doença de Parkinson, o tratamento com levodopa tem sido documentado como potencial exacerbador de distúrbios do sono. Vale ressaltar que o uso do medicamento só deve ser feito mediante prescrição e orientação médica. Entre os potenciais efeitos colaterais estão confusão, sonolência, insônia, pesadelos, alucinações, ilusões, agitação, ansiedade, euforia.

De acordo com Barbieri, cerca de 90% das pessoas com doença de Parkinson apresentam distúrbios como insônia, sonolência diurna e síndrome das pernas inquietas, por exemplo. Estudos já demonstraram que uma melhor qualidade do sono está associada a melhor mobilidade matinal e a uma melhor cognição em pessoas com doença de Parkinson.

“Por isso foi tão importante termos realizado essa análise objetiva, com auxílio de equipamentos. Era preciso aferir, de fato, qual é o impacto desse medicamento no sono. E verificamos que dormir sem tomar a última dose é pior”, diz.




Autor: Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP 
Fonte: FAPESP 
Sítio Online da Publicação: FAPESP 
Data: 09/08/2024

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